Estudantes correm risco de morte no transporte escolar em Bonito de Minas


Subcontratado pelo irmão do prefeito, Edivaldo transportava alunos sem ter carteira de motorista
(Por Fábio Oliva) Ônibus caindo aos pedaços, alguns sem cintos de segurança, sem extintores de incêndio, com vidros quebrados, tetos perfurados, para-choques detonados e até motoristas sem carteira de habilitação, estão colocando em risco a vida dos estudantes que dependem do transporte escolar em Bonito de Minas.
Com cerca de 9,2 mil habitantes, Bonito de Minas é o terceiro colocado na lista dos municípios mineiros com piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH), indicador que avalia a situação das cidades levando em conta a educação, a renda e a expectativa de vida da população.

As aulas do segundo semestre letivo em Bonito de Minas deveriam ter começado no dia 8 de agosto, mas só tiveram início no dia 15 e, em algumas escolas, no dia 16. Os donos das empresas que fazem o transporte escolar deixaram os ônibus parados, alegando falta de pagamento.

“Uma semana sem aula, por falta de pagamento dos ônibus, prejudica demais os alunos, que depois terão que sacrificar o sábado para ter aulas de reposição”, explica a professora Roseli Nogueira, que leciona numa escola situada na localidade rural de São José do Gibão.

Segundo a educadora, “é comum” os alunos ficarem um, dois e até três dias sem aula por mês, por deficiência do transporte escolar. “Teve mês que já ficou seis dias sem aulas”, conta a professora, que se sente duplamente prejudicada, como professora e como mãe de três filhos que estudam na mesma escola em que ela leciona.
Roseli explica que “os professores preparam o conteúdo a ser dado em sala de aula, vão para a escola e ficam esperando os alunos que às vezes não chegam, por causa do transporte escolar que é precário. Por causa disso, fica defasado o aprendizado dos alunos, que têm direito a 200 dias letivos e 800 horas de aula por ano”.

Pais, alunos, professores e moradores da localidade de São José do Gibão tomaram a iniciativa de fazer um abaixo-assinado, pedindo melhorias no transporte escolar. Até agora não obtiveram resposta da Prefeitura de Bonito de Minas.

A Escola de São José do Gibão possui 135 alunos. Cerca de 30 moram na própria localidade. O restante mora em outras comunidades rurais - como as localidades de Feio e Bahia - e dependem do transporte escolar, que é feito por apenas um ônibus de 40 lugares, duas vezes ao dia, uma de manhã e outra à tarde.
Além de excesso de passageiros, os ônibus são desconfortáveis, muito velhos e inseguros.


Professores e alunos têm grande repertório de histórias sobre os apuros enfrentados com o transporte escolar. Falam de um ônibus que sofreu princípio de incêndio repleto de alunos, os quais precisaram abandonar o veículo às pressas com medo de morrerem queimados. Numa ladeira próxima à localidade de Sumidouro, o motorista de um ônibus escolar, que seria adolescente e não teria carteira de habilitação, precisou jogar o veículo contra o barranco para não cair em um abismo. O impacto danificou severamente a frente do ônibus. Enquanto os reparos eram feitos, um pequeno caminhão foi improvisado na linha.
Embora tenha licitado a contratação apenas de ônibus para as 41 linhas de transporte escolar existentes no município, a fiscalização da Prefeitura de Bonito de Minas é falha. João Heber Nogueira, irmão do prefeito José Reis Nogueira, é dono de apenas dois ônibus, mas concorreu à licitação de quatro linhas de transporte escolar. Numa das linhas ele colocou uma caminhonete D-20 para realizar o transporte dos alunos, subcontratando o motorista Edivaldo Nunes de Jesus.


Edivaldo admite que não tem carteira de habilitação, nem curso específico para transporte de alunos. Ele conta que trabalhou um ano transportando os alunos da linha que vai da Fazenda Chaparral até a Escola de Veredinha, com 47 quilômetros de extensão. Após dois meses sem receber o pagamento, teve que abandonar o serviço. “Sou fraco e depois de dois meses sem receber, não aguentei bancar as despesas de combustível e manutenção da caminhonete. Tive que abandonar o serviço”, ele diz.

Os casos de um ônibus que ficou dois dias atolado em um areão; e de outro que deu defeito e alguns estudantes tiveram que caminhar até 32 quilômetros a pé de volta para casa, também fazem parte do repertório de alunos e professores.

OUTRO LADO
Geraldina Rodrigues Souza, secretária de Educação de Bonito de Minas, culpa o Governo do Estado pela precariedade do transporte. Segundo ela, neste ano, o Governo de Minas já deveria ter repassado sete parcelas de cerca de R$ 185 mil para pagamento do serviço. “Semana passada liberaram apenas a terceira parcela”, afirmou.
A secretária disse que desconhece a existência de motoristas inabilitados e sem cursos específicos para transporte de alunos atuando em Bonito de Minas. “Chegamos a levar uma empresa para dar capacitação aos motoristas e todos receberam certificado”, finalizou.

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